5 de julho de 2010

O colossal legado de Aramis Millarch


Aramis Millarch foi um dos maiores jornalistas culturais do Brasil e deixou para a posteridade, números que impressionam: 50 mil artigos, escritos em cerca de 20 periódicos; 4 mil fitas ( cassete e de rolo) com 572 personalidades entrevistadas em 720 horas de gravações; um acervo pessoal de 32 mil discos, a maioria de jazz e MPB, e 5 mil livros, quase todos de cinema.
Aramis adorava o que fazia e escrever sobre cultura, travando contato com personalidades da área, era para ele necessidade básica, como comer e dormir. Nascido em 1943, antes dos 18 anos já era repórter e em 1962 iniciou a seminal coluna Tablóide no jornal Estado do Paraná, que manteve por longos 30 anos, até a sua morte, em 1992, um dia após completar 49 anos. Mas a coluna era só a espinha dorsal das múltiplas atividades das quais participou. Mesmo residindo em Curitiba, escreveu sobre música, cinema e cultura em vários veículos pelo Brasil, muitos deles assinados com um dos 10 pseudônimos que criou ao longo da carreira jornalística. No Última Hora, assinava J. Lyra de Moraes ( J de João Gilberto, Lyra de Carlos Lyra e Moraes de Vinicius de Moraes) e no fatídico AI-5, além de receber carta de demissão do jornal, ainda teve cassada sua autorização para ministrar aulas no curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná. Laureado com o Prêmio Esso de Jornalismo, escreveu também para emissoras de rádio - Rádio Cultura foi uma delas - e com Elói Zanetti, produziu o programa Domingo sem Futebol ( Rádio Ouro Verde). Incansável, fundou e foi primeiro presidente da Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira, além de participar de inúmeros júris de festivais, debates e movimentos pró-cultura.
Felizmente, graças ao empenho de sua viúva, Marilene Zicarelli Millarch e do filho Francisco Millarch, todo esse legado descrito não se perdeu no tempo. A sua famosa coluna Tablóide pode ser consultada e pesquisada no site Tablóide Digital ( http://www.millarch.org/ ), página mantida pela família, que pretende disponibilizar digitalmente todos os artigos escritos pelo jornalista em 30 anos ininterruptos de colaboração na imprensa. Para esta imensa empreitada, criou-se, aliás, um link com instruções específicas para que qualquer colaborador voluntário participe da equipe de produção e ajude na indexação e revisão. Outro grande trabalho de resgate foi iniciado em 2006, quando os produtores Samuel Ferrari Lago, Rodrigo Barros Homem D’El Rey e Luiz Antonio Ferreira conheceram através de Francisco Millarch o gigantesco material guardado pelo jornalista com entrevistas em áudio e vídeo. Com o patrocínio da Petrobrás e captado pela Lei Rouanet, conseguiram finalizar e lançar em dezembro de 2009 o box Aramis Millarch – 30 anos de Jornalismo Cultural, incluindo oito DVDs e um livro biográfico, distribuído para 450 bibliotecas brasileiras e disponível por dois anos no site Tablóide Digital. Ali estão encontros inesquecíveis com grandes personalidades da nossa cultura: Elis Regina, Chico Anysio, Vinicius de Moraes, Gilberto Gil, Cartola, Hermínio Bello de Carvalho, Lúcio Alves, Carlos Lyra, Tito Madi, Toquinho, Flávio Rangel, Zuza Homem de Mello, João de Barro, Egberto Gismonti, Arrigo Barnabé, Francis Hime, Paulo Leminski, Herivelto Martins, Maysa ( em sua última entrevista), entre tantos outros. Um dos homens que mais lutaram pela preservação da cultura brasileira, Aramis Millarch teve seu esforço de uma vida recompensado: ao contrário de tantos acervos essenciais, destruídos e inutilizados pelo Brasil afora, o seu colossal legado vive e servirá de fonte para inúmeras gerações futuras.

4 comentários:

  1. Apesar do grande interesse pelo tema, só agora fui apresentado a Aramis. Rapidamente, percebi sua importância para a cultura brasileira, em especial, para a MPB. Aramis vive através do seu trabalho!

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  2. Com certeza! Aramis é sempre atual e uma referência para qualquer pesquisador que queira se aprofundar na produção cultural da segunda metade do século XX.

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