8 de julho de 2010

Vinte anos depois de Cazuza, Ezequiel Neves fecha seu longo, louco e generoso ciclo na cultura rock nacional


Ezequiel Neves quebrou o padrão de muitos crazys dos anos 70 e ao invés de viver 1000 anos em 10, viveu 74 anos à 1000 por hora. Incessante, irreverente e exagerado como seu amigo maior, Cazuza, sempre fez tudo o que lhe deu na veneta, e como não poderia ser diferente, resolveu partir no dia 07/07, dia da morte do cantor. Coincidências não existem, meus caros. Não para Ezequiel Neves.
Ezequiel foi um dos nossos mais importantes críticos de música, principalmente quando o assunto era rock. Participou dos veículos mais autênticos da década de 70, como a primeira versão brasileira da Rolling Stone, hippie até o osso e que não durou muito. A sua vida sempre foi pautada pelo rock, primeiro escrevendo, e logo empresariando bandas, caso do Made in Brazil, ainda em meados dos anos 70. Empresariando é modo de dizer, pois com ele a função se transformava em apadrinhamento mesmo, no bom sentido da palavra: brigava pelos pupilos, corrias atrás de shows, insistia com veemência nas rádios, e se fosse o caso, ajudava a carregar os instrumentos. No jornalismo, os pseudônimos utilizados não negavam sua preferência pelo estilo: Zeca Jagger e Zeca Zimmerman, em homenagem ao vocalista da sua banda preferida e o maior escritor do rock, Bob Dylan, respectivamente. Quando usou nome feminino , também deu bandeira para outra paixão sua ao longo da vida: Angela Dust era o apelido de uma droga sintética produzida nos 70.
No final da década, bandeou para a gravadora Som Livre a pedido do produtor Guto Graça Melo, onde trabalhou com cantores como Elizeth Cardoso e Cauby Peixoto. Quando voltou à mesma gravadora depois de um breve hiato, sua função já era mais parecida com um caçador de novos talentos e foi dentro da Som Livre, em 1982, que caiu em sua mão uma certa fita de um certa banda de rock novata. Essa demo, mal ele sabia, iria transformar sua vida para sempre. Segundo relatos do próprio Zeca, a fita estava em poder de Leonardo Neto ( atual empresário de Marisa Monte) e Nelson Motta ( o homem que estava em vários lugares ao mesmo tempo nos anos 70), que pensavam em incluir uma ou duas músicas daquele material em uma coletânea “jovem”. Ezequiel se apoderou da fita, se apaixonou no ato pela banda, e principalmente pelo abusado vocalista e suas letras fora do padrão rock -logo descobriu que era Cazuza, conhecido seu das noites boêmias do Leblon. Resolveu “assumir” os meninos e bateu de frente com a cúpula da Som Livre para lançar um disco inteiro, já que Cazuza era filho do todo poderoso João Araújo, presidente da empresa. O produtor tinha relações estreitas com o executivo, e acabou ganhando a parada. O resto é história: o Barão estourou, Cazuza logo ficou maior que a banda, Ezequiel participou de composições do vocalista (‘Codinome, Beija-Flor’ e ‘Por Que a Gente é Assim?’) e se tornou seu amigo/conselheiro ad eternum. Depois do desencarne precoce de Cazuza, Zeca seguiu a mil, pois como seu comparsa mesmo dizia, o tempo não para. Impulsionou Cássia Eller para as paradas, reavivou a carreira de Ângela Ro Ro e foi mostrado de corpo e alma no filme Cazuza, de Sandra Werneck. Continuou “guru” dos roqueiros e popeiros de plantão, dando forças para Frejat e seu Barão, Ritchie, Kid Abelha, entre outros.
Uma de suas últimas aparições na TV foi justamente no especial de Cazuza feito pela Rede Globo, onde mesmo debilitado por vários problemas de saúde, fez questão de dar seu essencial depoimento.
Então Ezequiel Neves finalmente cansou. Vinte anos depois de Cazuza, resolveu alçar vôo para outras dimensões. A mil por hora, tenham a certeza.

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