5 de novembro de 2010

Discos que nos Tocam 6 - Clube da Esquina - Milton Nascimento e Lô Borges (1972)

Não teve jeito. Quando iniciei esta série, o 'Clube da Esquina' imediatamente surgiu como escolha óbvia para iniciá-la. Mas justamente para não cair em obviedade - e depois eu percebi que esta decisão foi uma bobagem - não inaugurei o "Discos que nos Tocam" com o disco que mais me tocou e que até hoje mais toca aqui em casa. Se os Rolling Stones me mostraram que branquelos britânicos podiam fazer rock com alma negra, se os Beatles me fizeram acreditar que a música está além da música, se Cartola provou que a inspiração e a intuição podem extrapolar a erudição, se Elis me fez crer que existe voz para a alma, Milton Nascimento, Lô e todos os músicos que moldaram este denso e fabuloso disco duplo de 1972, abriram definitivamente meu coração e ouvidos para uma música profundamente brasileira, mas que unia como nunca vocais e instrumentos, letras e canções, ritmos nativos e internacionais. O 'Clube da Esquina' é o disco que mais me toca porque em sua argamassa incomparável há uma mistura perfeita de sons mutáveis, que de repente se transformam em  cheiros, climas e emoções. E cada vez que se ouve surge uma nova passagem, um novo acorde, uma percussão ao longe. Depois deste disco, Milton Nascimento, um artista até então "cult" e "difícil", abriu picada para se tornar o grande menestrel dos estudantes setentistas. Lô Borges amadureceu na marra, tanto, que depois de lançar simultaneamente o seu disco ( o do tênis) incompreendido e belo LP, só reapareceu 7 anos depois, quando lançou sua obra-prima "Via-Láctea" e participou timidamente do segundo Clube da Esquina. Beto Guedes, até então um ótimo compositor e instrumentista da turma, mostrou também ter um vocal diferente e único, o que lhe abriu as portas para a carreira solo. Toninho Horta foi descoberto pelos músicos internacionais. O Som Imaginário ( que para não criar agremiações internas no clube, não foi chamado assim nas gravações), com Wagner Tiso, Tavito, Fredera, Luis Alves e Robertinho Silva, já mostrava desde o disco anterior Milton (1970) que era um dos mais estimulantes grupos da música brasileira, jorrando criatividade em arranjos arrojados e timbres progressivos.
Se já foram devidamente destrinchados no blog o histórico Os Borges (1980) e o emocionante Via Láctea (1979), não tinha como deixar pra trás o pai de todos. Clube da Esquina é Minas, Brasil e Mundo dentro de um clube que nunca existiu fisicamente, mas que vive e mora em muitos por aí afora. Pra sempre.

Em tempo: na coleção do Estadão "Grande Discoteca Brasileira" ( outro que se rendeu aos disquinhos em banca) o disco da semana é justamente o Clube da Esquina. Ele vem em CD único ( em capinha mixuruca) e um bom livreto analisando as gravações e perfilando os integrantes. Mas como eu sou chato para estas coisas, vai uma bronca: na ficha técnica não há qualquer referência aos músicos participantes em cada faixa, o que para este disco é um pecado tremendo. No mais, comprem. Por R$14,90 dá para levar para casa um dos melhores discos já produzidos no Brasil.

2 comentários:

  1. Malu, há algum link onde aparecem todos os discos do Clube da Esquina, do primeiro ao último?

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  2. Leo,
    Por incrível que pareça nunca vi nenhum site que alinhasse todos os discos do Clube. O próprio livreto do disquinho do Estadão tem no final uma ótima e (quese) completa relação desses discos ( com comentários), mas nada por enquanto na web. A página oficial do Clube da Esquina, capitaneada por Márcio Borges, está lá na pág. do Museu da Pessoa e vale sempre uma olhada. Tem depoimentos imprescindíveis de pessoas que ajudaram a "moldar" o Clube.

    http://www.museudapessoa.net/clube/

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