16 de janeiro de 2011

A banda que uniu o punk, o jazz e a dodecafonia e botou de ponta cabeça o pop rock oitentista, segue na ativa com a mesma disposição

O ano de 1986 é considerado um dos mais férteis na história do rock nacional, com pelo menos meia dúzia de lançamentos seminais: o segundo do Legião Urbana (Dois), o segundo do Ira!(Vivendo e Não Aprendendo) o terceiro do Titãs (Cabeça Dinossauro), o primeiro do Capital Inicial, o terceiro do Lobão (O Rock Errou), o terceiro do Paralamas ( Selvagem?) e o primeiro do Plebe Rude ( o inigualável EP O Concreto Já Rachou), para citar os mais relevantes. Com tantos discos reverberando o auge criativo de muitas bandas do período, o ano seguinte surgiu mais acanhado. O Legião lançou no mercado o seu "1978-1987-Que País é Este?", um ótimo LP, mas recheado de antigas composições da época punk do Aborto Elétrico e da fase folk "eu e meu violão" de Renato Russo. O Paralamas lançou o ao vivo "D"; Lobão, uma boa parte do ano preso, se manteve no auge com "Vida Bandida"; Titãs também se deu bem com o "Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas" e o Ira passou sem lançamento. Um ano de qualidade, mas inferior ao ano anterior, com algumas bandas mantendo o mesmo patamar e outras tentando se restabelecer após pico extremo na carreira. Foi nesta marola que surgiu um disco EP ( com apenas seis faixas) que em pouco tempo chacoalhou o mercado e deu um nó na crítica especializada. O disco: "Corredor Polonês"; a banda: Patife Band, liderada por Paulo Barnabé, baterista que tocou com meio mundo do Lira Paulistana ( QG do movimento vanguardista do início da década, idealizado entre outros, por seu irmão Arrigo Barnabé e o inesquecível Itamar Assumpção). A Patife existia desde 1983 e já lançara em 1985 um mini-LP pelo selo Lira Paulistana com o hit jovenguardista "Tijolinho". Mas foi com "Corredor Polonês", que Paulo Barnabé atingiu o ápice de sua mistura explosiva, lançando no caldeirão pitadas de punk, rock, jazz, movimentos atonais, esquizofrenia vocal, ritmos regionais e dodecafonia afinada com os experimentos de seu mano Arrigo. O resultado foi arrasador: passados 24 anos, poucos críticos conseguiram assimilá-lo, poucos privilegiados tiveram acesso e o próprio Patife nunca mais se aproximou da catarse infiltrada em seus sulcos. Alguns elogiaram com ressalvas, outros adoraram sem tentar explicá-lo e a grande maioria ignorou de propósito. Cabeça Dinossauro punk? hard-jazz vanguardista? que seja. O que não pode ser tirado de questão é que tanto a Patife, como outros grupos que ousaram misturar pioneiramente gêneros ao pop e ao rock, como Fellini, Cabine C, Mulheres Negras, Akira S, Black Future, etc., foram os grandes responsáveis pela salutar postura experimental e corajosa adquirida pela novíssima geração underground do pop e da MPB tupiniquim neste milênio. A Patife Band segue ativamente em 2011, ao vivo e a cores, sob a batuta (baqueta) de sempre do grande Paulo Barnabé. Depois de uma interrupção na carreira, voltou em 2003 com disco ao vivo e foi incluída em importante compilação estrangeira de 2005, "The Sexual Life of the Savages: Underground Post-Punk of São Paulo, Brasil (Soul Jazz Records). Detonando, como sempre, e com o mesmo ímpeto de outrora. Acompanhem alguns bons momentos deste incrível grupo:
* Este post vai especialmente para Rogério Engelmann, que comprou este alucinante disco em 1987 e proporcionou a alguns privilegiados de sua turma essa grata revelação que somada a outras surpresas do período (Tom Waits, Fellini, Everything But The Girl, Sade, Style Council) elevou o tal ano a um nível consideravelmente alto.

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