10 de janeiro de 2012

Stokowski no Brasil, caçadas de Daniella Thompson e um certo disco raro de capa cinza que me caiu às mãos

Há cerca de dois anos, obtive detalhes mais precisos sobre a lendária sessão de gravações empreendidas pelo famoso maestro Leopold Stokowski em 1940 no Rio, à bordo do navio S.S. Uruguay atracado na época em frente a Praça Mauá.
O famoso "S.S. Uruguay", atracado no Rio de Janeiro em 1940 ( foto de Leon van Duivendiik)
Não foi artigo de nenhum especialista brasileiro, e sim uma extensa reportagem histórica de uma obstinada e apaixonada "brasilianista" americana chamada Daniella Thompson, responsável pelo site http://daniellathompson.com  e pelo blog http://daniv.blogspot.com/ . Graças à sua paixão pela Música Brasileira, ela engendrou desde 2000 uma verdadeira caçada às famosas (mas pouco conhecidas) gravações no navio. Regidas por Stokowski, com "a big help" de Villa-Lobos e Donga, participantes e responsáveis pela seleção de músicos, ritmistas e cantores de raiz disponíveis na então capital federal (Pixinguinha, Cartola, Zé Espinguela, Pastoras da Mangueira, Zé da Zilda, Jararaca e Ratinho, João da Bahiana, Luiz Americano, entre tantos) , teve toda a produção sob patrocínio do governo americano e a gravadora Columbia, como parte da "Política da Boa Vizinhança" do Presidente Roosevelt, preocupado com o namoro do então presidente Vargas com o fascismo. A investigação de Daniella, embora sem o resultado desejado (que era o de descobrir e disponibilizar todas as gravações da sessão histórica), levantou a ponta do iceberg e comprovou que ainda existem gravações inéditas nos cofres da gravadora americana.
Capa do disco americano lançado pela Columbia em 1942
Mas por que eu estou levantando este tema só agora? É que depois de ficar encantado com essa história toda e ter guardado todos os artigos referentes, eis que neste último final de semana, revirando uma cesta de LPs de uma bazar beneficiente, eu me deparo com um de capa cinza, que me chamou a atenção não por sua  pequena reprodução fotográfica no canto esquerdo, mas pelo título: "Native Brazilian Music". Graças à Daniella, eu já conhecia esse nome e eu não acreditei quando me dei conta de que o LP em minhas mãos era da série limitada de 3000 unidades produzida pelo Museu Villa Lobos em 1987 com as 17 músicas lançadas originalmente pela Columbia Records em 1942.
Capa do LP brasileiro ( Fundação Villa Lobos - 1987)
Que sorte! se as 40 ( algumas fontes dizem 100) gravações originais de 1940 viraram lenda, se as cerca de 24 gravações no cofre da Columbia nos EUA se tornaram um tesouro intocado, se os dois discos originais de 1942 lançados pela mesma Columbia ( só nos EUA ) com 16 faixas ( e 17 músicas) transformaram-se em raridades iminentes, esse LP lançado há 25 anos já se constitui em uma obra bem rara entre nossos LPs brasileiros, pois é o único lançamento nacional das gravações de Stokovski até hoje. Só o rico encarte com textos e resenhas de Ary Vasconcelos (um dos responsáveis pelo projeto ao lado de Suetônio Valença, Marcelo Rodolfo e Jairo Severiano sob a gestão de Turíbio Santos) já vale muito a pena. Só não é impecável porque a edição nacional copiou o erro da edição americana ao chamar Pai Alufá ( o próprio Zé Espinguela) de Rae Alufá.
Para saber todos os detalhes dessa incrível saga, entender um pouco mais sobre a "política americana de boa vizinhança" e o perfil do maestro Leopold Stokovski, segue abaixo toda a série de reportagens de Daniella Thompson e alguns complementos importantes (áudios e matérias).
A série de Daniella Thompson:
 Caçando Stokowski 
Fevereiro de 2000
 Aguardando sua resposta urgente... 
4 de Março de 2002
 Donga para Villa-Lobos 
5 de março de 2002
 Uma crise urbana em agosto de 1940 
5 de março de 2002
 Native Brazilian Music 
Capas dos álbuns da Columbia.
5 de setembro de 2003
 Tesouros nos cofres da Columbia 
4 de novembro de 2003
 Os sambas mais dançáveis até o momento 
Resenha de Native Brazilian Music na revista Time.
10 de janeiro de 2007 

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