13 de junho de 2015

Fernando Brant (1946-2015)

Morreu o letrista mais prolífico do Clube da Esquina e de toda uma geração musical mineira. Fernando Brant trabalhou com os principais compositores do movimento: Milton Nascimento ( parceiro em mais de 200 músicas), Tavinho Moura, Toninho Horta, Lô Borges,  Wagner Tiso e Beto Guedes. E essa profusão de letras teve um começo meio sem querer.

Milton e Brant - parceiros certeiros
Milton Nascimento procurou Brant lá em 1967 pra letrar uma música sua, depois de achar que Márcio Borges, seu letrista de primeira hora, não tinha a ver com ela. Procurou o amigo pois sabia que escrevia bem e era um intelectual devorador de livros e filmes. Brant quis sair fora, alegando que não tinha nada a ver com aquilo, mas alguns dias depois, meio temeroso, acabou mostrando uma letra pungente sobre um amor que partiu e ganhou pra sempre o parceiro Milton logo de primeira. Essa música, "Travessia" eras uma das três músicas que o padrinho musical de Milton, Agostinho dos Santos, inscreveu ( na surdina) no Festival Internacional da Canção. Não ganhou ( ficou em 2º) mas virou um clássico instantâneo e abriu as portas do Brasil para uma leva impressionante de compositores/letristas mineiros, turma que em pouco tempo batizaria seu movimento de Clube da Esquina e chamaria a atenção da nata musical no mundo inteiro. Brant se formou advogado, fincou bandeira em redações de jornais e revistas, escreveu livros e fez letras, tantas letras magníficas, tão simples e ao mesmo tempo eruditas, com uma marca só sua. "Maria, Maria", "Paixão e Fé", "Canção da América", "Manoel, o Audaz" ( homenagem ao seu Jeep Willys do tempo da guerra), "Para Lennon e McCartney", "Beco do Mota", "Ponta de Areia", "Nos Bailes da Vida", "O Medo de Amar e o Medo de Ser Livre", "Raça", "Diana", "Paisagem da Janela", "Conspiração dos Poetas". São centenas, cada uma com sua beleza e sua aptidão para celebrar o povo, as Minas Gerais, a brasilidade profunda. Brant já tem um livro com suas crônicas escritas para o jornal Estado de Minas e um disco bem bacana que saiu pela Dubas ( selo de Ronaldo Bastos) em 2002, "Outubro", com 15 obras do seu cancioneiro interpretadas por grandes da MPB em várias épocas ( capa abaixo).


Agora, com a ausência terrena, precisamos pra já, pra agora, urgentemente, de uma antologia com as letras e poesias de sua lavra - todas elas - para lermos, cantarmos e declamarmos para sempre o conjunto da sua obra. Uma homenagem mínima para um letrista/poeta que deixou a alma em cada frase, cada verso criado, numa conexão regional/universal pouco alcançada por outros escritores.

Entrevista de 2012: https://www.youtube.com/watch?v=bOwhtz2rBW8

Disco completo ( "Conspiração dos Poetas", com Tavinho Moura - 1997)  https://www.youtube.com/watch?v=gBIVKXl0pZQ

Trecho do filme "A Sede do Peixe" com a música "Paixão e Fé" ( Milton Nascimento/ Fernando Brant) - https://www.youtube.com/watch?v=4w26fGW-yuQ

Travessia ( Milton Nascimento/ Fernando Brant) - 1967 - https://www.youtube.com/watch?v=gjn0xsKIUiM

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