30 de abril de 2017

Belchior ( 1946-2017)


Nem bem nos restabelecemos da partida do Jerry Adriani, vem a notícia hoje da morte do Belchior! Com a mesma idade, 70, Belchior vinha nos últimos anos numa espécie de reclusão ( mas jamais desaparecido como a imprensa quis que fosse desde 2009), tanto que a cidade gaúcha em que morava com sua esposa - Santa Cruz do Sul - pouco sabia de sua presença mesmo ele morando ali há quase dois anos. Um dos maiores poetas da nossa música, cantou/escreveu como ninguém as angústias e sonhos da geração 70, sufocada pela ditadura. Elis foi das primeiras a gravá-lo mas junto ao chamado Pessoal do Ceará ( Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Téti, Fausto Nilo, Ricardo Bezerra, entre outros), Belchior já estava no Rio desde o início dos 70 e dessa reunião saiu o clássico disco "Meu Corpo minha embalagem todo gasto na viagem" de 1973. Logo que chegou, aliás, venceu o IV Festival Universitário da MPB, em 1971, com "Hora do Almoço". Em seguida mudou-se para São Paulo, lançando compactos e trilha para curtas e foi em Sampa que ouviu nas rádios Elis cantando a sua Mucuripe (com Fagner). O disco inaugural de sua carreira solo é de 1974 mas foi o LP de 1976 ( Alucinação) que consolidou sua carreira, com sucessos definitivos como Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais. Elis mais uma vez não perdeu tempo e gravou também a joia preciosa Como Nossos Pais, tornando-se uma de suas mais brilhantes e emocionantes interpretações. Vanusa nessa mesma época gravou com muita propriedade Paralelas. Belchior seguiu nesse ritmo até a primeira metade dos 80, quando suas gravações ficaram mais espaçadas e ele se enveredou por outras trilhas dentro da música ( produção, sociedade em gravadora, etc). Eu nunca tive oportunidade de vê-lo em shows mas nos anos 90 encontrei-o aqui mesmo em São Caetano, em uma casa noturna especializada em música brasileira - ele estava com amigos em uma mesa próxima, com uma discrição que chamava a atenção justamente por ser ele o grande Belchior. Novas gerações de músicos continuaram o abençoando como influência mor e suas participações em shows prosseguiram até os anos 2000, quando problemas particulares e financeiros o fizeram se afastar da carreira e se mudar do país por alguns anos. Hoje o Brasil, consternado, soube ao mesmo tempo da sua morte e que estava morando de novo no Brasil, dentro do estado do Rio Grande do Sul. Belchior é daqueles que continuarão sendo cantados e incensados por gerações e gerações, tal sua magnitude como artista. Como bem definiu Guilherme Arantes nas redes sociais, em mais uma de suas precisas e honestas homenagens, "Belchior sempre foi e será o melhor letrista de canções transformadoras que já existiu". Assim será.


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