A última revista do Sesc traz uma entrevista bem interessante com o escritor Evandro Affonso Ferreira, que discorre sobre sua obsessão pela palavra, mudança de estilo e a arte de criar personagens na literatura, entre outros temas. Conheço Evandro e não é de hoje. Em minhas andanças lítero-culturais pelas ruas de Vila Madalena e Pinheiros nos anos 90, conheci muitas pessoas iluminadas e Evandro foi uma delas. Primeiro, ainda no início da década, adentrei o seu Sagarana, um pequenino mas mágico sebo na esquina da Rua Teodoro Sampaio, bem em frente à efervescente Praça Benedito Calixto. Mágico porque conseguia comportar um sem número de raridades e surpresas em espaço ínfimo. Ali ouvi as primeiras histórias do mineiro de Araxá que adorava palavras, adorava escrever e adorava livros. Uma década depois, em outro emprego, mas ainda zanzando pela mesma área, conheço seu segundo sebo, o Avalovara, no epicentro da Pedroso de Moraes, próximo à Fnac e cercado por outros sebos. Ali, em espaço mais confortável, com poltrona aconchegante, cafezinho e mesa de centro, as conversas foram ainda mais densas, profundas e infindáveis. O acervo continuava o de sempre: nada de best-sellers, blockbusters, auto ajuda ou similares. O negócio ali era e sempre foi literatura de verdade. Guimarães Rosa ( referência máxima), Graciliano Ramos, Lucio Cardoso, Flaubert, Ezra Pound, Drummond, Fernando Pessoa, Dostoievski, Euclides da Cunha, Osman Lins, Kafka. Foi por essa época que me achei preparado e li um livro seu. Foi o "Zaratempô" de 2005, que ele fez questão de fazer dedicatória e eu sorvi de uma talagada só. A sensação de lê-lo chega bem parelha ao do João "genial" das veredas. Logo depois desse livro, Evandro mudou o estilo e começou a escrever romance, com começo, meio e fim (as suas obras anteriores tinham também começo, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem) e continuou ganhando prêmios à rodo. Mudou-se o gênero literário, mas a intensidade, a ourivesaria com as palavras e a paixão na escrita mantiveram-se firmes. Nessa década dois do novo século, não existe mais aquele aprazível e mágico sebo e eu estou trabalhando no ABC, em home office. Por essa e pela total falta de mágica no ar, foi muito gratificante reencontrar Evandro Affonso Ferreira, mesmo que num bate papo impresso. Percebi logo de início, que seu entusiasmo, sua jovialidade e seu amor pela literatura continuam intactos. Diante dessas constatações, precisei procurar um sofá velho e confortável pra ler com calma essa entrevista que vocês também podem ler na íntegra( abaixo).
http://www.sescsp.org.br/online/artigo/7408_EVANDRO+AFFONSO+FERREIRA#/tagcloud=lista
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