Jayme Leão, um dos mais versáteis artistas gráficos do Brasil, faleceu na semana passada (10/03), prestes a completar 69 anos (hoje é o dia de seu aniversário). Os da minha idade e outros um pouco mais novos lembrarão de seu vistoso traço nos já clássicos livrinhos da série Vagalume, publicados pela Editora Ática, onde trabalhou por 12 anos. Outros recordarão a maravilhosa capa da revista Circo nº3 (março/abril de 1987), pra mim uma das mais criativas dos quadrinhos (ver nas fotos abaixo). Os leitores da Folha de S.Paulo no início dos anos 80 certamente se lembrarão de suas expressivas charges de capa inteira abrindo o caderno de esportes. E ainda mais a grande massa que acompanhou de perto seus desenhos, ilustrações de capas, charges e caricaturas nos diversos veículos da imprensa alternativa que enfrentavam como podiam o regime ditatorial militar: O Pasquim, Opinião, Movimento (onde foi um dos fundadores); e também para a grande imprensa: Veja, Istoé, Folha de S.Paulo, Estadão. Vindo do Recife para o Rio, começou cedo no ofício: aos 15 anos já trabalhava para o jornal "Liga", das Ligas Camponesas. No início da ditadura produz quadrinhos para a EBAL e entra no mercado de publicidade, uma relação complicada que o faria abandonar essa carreira anos depois por, como dizia, "não suportar a ideia de ganhar dinheiro mentindo". Além das icônicas capas para a série Vagalume, fez outras tantas para obras paradidáticas e livros adultos como "Malaguetas, Perus e Bacanaço", de João Antônio. Fez outras belas capas para o explosivo mercado de HQ nacional nos anos 80/90, com capas muito bem adequadas ao movimento. Mais ou menos nessa época, "quase" cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Meu chapa Marcelo Tieppo, a quem chamo de amigo-gêmeo pelas inúmeras coincidências e afinidades mútuas, foi casado nos anos 90 com a filha de Jayme, a jornalista Lídice Leão; como eu já conhecia boa parte do seu trabalho e o considerava genial, ficava direto na orelha do Tieppo para marcarmos um choppinho com seu sogro. Por várias razões esse encontro nunca aconteceu. Pena, mas não faz mal: a arte de Jayme Leão encharcou minha mente e meu coração desde que botei os olhos nela e assim permanecerá. Ele foi um daqueles artistas que utilizaram sua arte para tentar mudar o mundo e se preciso fosse, fazê-la seu cavalo de batalha. O mundo ao que parece, vai de mal a pior - vide a "nova marcha da família" - mas enquanto os desenhos de Henfil, Fortuna, Claudius, Jayme Leão e tantos outros transgressores do traço estiverem por aí flanando e sendo compartilhados, esse mesmo mundo terá pelo menos um pingo de caráter e humanidade lá no seu fundo.
Seguem alguns dos grandes trabalhos do mestre:
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Circo nº3 ( março/abril de 1987) |
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Jornal Movimento - 06/12/1976 |
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Ação Policial nº2 - julho de 1985 |
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Coleção Vagalume |
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Movimento 12/09/1977 |
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Movimento 01/09/1975 |
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Coleção Vagalume |
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Unidade 13/08/1976 |
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Ex-nº13 - agosto/1975 ( reprodução Blog do Orlando) |
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Movimento 02/07/1979 |
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Jornal Scaps - outubro de 1975 ( morte do General Franco) |
*capas do jornal Movimento - reprodução site Oficina Informa/ livro Jornal Mopvimento - Uma Reportagem de Carlos Azevedo
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