28 de agosto de 2017

Wilson das Neves ( 1936-2017)


Wilson das Neves, falecido no sábado aos 81 anos, foi certamente um dos mais queridos músicos que esse Brasil já teve. Qualquer artista que fosse o queria como baterista, visto que ele transitava com desenvoltura por todas as vertentes, gêneros e ritmos e fosse onde fosse, tocava sempre com paixão, rigor e alto astral. Começou nos anos 50 em orquestras de bailes e gafieiras, e logo em seguida já tocava como profissional nos estúdios da Gravadora Copacabana e acompanhando bambas como o flautista Copinha, fazendo parte dos conjuntos de Ed Lincoln e de Ubirajara Silva ( pai de Taiguara) e orquestras de emissoras de TV. Sempre com o samba nas veias, ele que começou ainda guri na Escola Flor do Ritmo no bairro do Méier, logo caiu de corpo, alma e pandeiro na mão na Império Serrano, escola frequentada por seu pai e a partir daí foi paixão para toda a vida: tornou-se padrinho de bateria e seu integrante fiel até o último momento. Esteve em discos lendários como "Coisas" (1965), do maestro Moacir Santos; o disco da amiga Elza Soares de 1968, onde tanto fez que teve o nome em destaque na capa; "Lugar Comum" (1975), de João Donato; e tantos outros... tocou com Cartola, Nelson Cavaquinho, Wilson Simonal, Martinho da Vila, Candeia, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro, João Nogueira Clara Nunes, Ney Matogrosso, Zeca Pagodinho; trabalhou com mais de 700 músicos(!!!) e seria preciso fazer um livro para listar todos eles - até os gringos Sarah Vaughan, Paul Simon e Sean Lennon tiveram o privilégio de contar com suas baquetas precisas. Com Chico Buarque, foi baterista oficial a partir de 1982 e só não participou do seu último disco, lançado em 2017 , porque estava se tratando do câncer que acabou o levando. E foi ao lado de Chico que resolveu escancarar sua porção compositor, ao compor a primeira parceria, e engatar seu primeiro disco solo, como intérprete, em 1996, "O Som Sagrado de Wilson das Neves". Outro grande parceiro seu em composições foi Paulo César Pinheiro. Vale lembrar que das Neves gravou LPs instrumentais com seu conjunto em décadas anteriores, discos que são disputados a tapa em sebos. Nos últimos anos integrava a eclética Orquestra Imperial, ao lado dos "jovens" Rodrigo Amarante e Nina Becker, entre outros, além de continuar a lançar discos próprios - "Brasão de Orfeu" (2004), "Pra Gente Fazer mais um Samba" (2010) e "Se me Chamar,  Ô Sorte" (2013), onde fez a primeira parceria com Nelson Sargento. Teve sua biografia lançada no ano passado, quando completou 80 anos e seu documentário, em gestação desde 2007, sairá no final do ano - conseguiu ver o filme em edição antes de ser internado. Tanto na película como no papel o que se lerá/verá de Wilson das Neves é o que seus tantos amigos em vida presenciaram: um instrumentista de suingue único, com uma leveza sem igual e um ser humano que tentou levar essa leveza, alegria e elegância para sua convivência/ vivência. Pelas centenas de depoimentos que reverberam depois de seu passamento, ele conseguiu!

Discos primordiais com sua participação:

"Coisas" - Moacir Santos ( 1965) - https://www.youtube.com/watch?v=FhyoSK9F-6g

"Elza Soares/ baterista Wilson das Neves" (1968)- https://www.youtube.com/watch?v=JmqjG60w1bo

"Lugar Comum" - João Donato (1975) - https://www.youtube.com/watch?v=yawNoz0GukM

Discos Solos:

https://www.youtube.com/watch?v=m2lT1fIvOV0 (1968)

https://www.youtube.com/watch?v=LrhfHqsIRtA (1969)

https://www.youtube.com/watch?v=7AQO43iglWA (1970)

https://www.youtube.com/watch?v=ff858TsrvsA (1976)

https://www.youtube.com/watch?v=inlf6V96Qlc  (1996)



Um comentário:

  1. Pois Wilson das Neves nos deixa para juntar-se a tantos outros que se foram também. É trste perder um talento como o dele, é bom ver as pessoas que admiram a música brasileira nao deixam de homenageá-lo nessa hora.
    Obrigada, Malú.

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