31 de agosto de 2009

Jornalistas acham Belchior para contar que ele sumiu!

O título do post parece coluna do José Simão, mas é a pura verdade. Por conta do nosso perspicaz jornalismo, bizarrices como esta acontecem aos montes e muita gente acha que é normal. Quem começou com esse "sumiço" do compositor foi o inacreditável "Fantástico", uma revista eletrônica que precisa ser revista urgentemente. Há dois domingos atrás, foi ao ar a notícia do "desaparecimento" de Belchior, e a pauta do programa até se mostrou bem instigante, ao contar sobre o automóvel do artista abandonado no aeroporto e outros indícios estranhos. Mas quando a checagem se mostrou imprescindível, a matéria amarelou: citou-se a aparição de Belchior em um show do TomZé em fevereiro deste ano, mas ninguém foi atrás desse detalhe e por uma razão muito simples: se aparecesse o TomZé no ar e disesse algo assim: "Pois é, ele participou do meu show e depois esticamos para um restaurante...", o mote e a chamada do Fantástico ia pro saco e acabava o mistério. O banho-maria continuou, a internet temperou ainda mais o caldo e mesmo havendo vários indícios de que o cantor cearense não havia desaparecido (como a foto ao lado do Sarney neste ano), precisou a reportagem do próprio Fantástico achar o Belchior para dizer que o Belchior tinha desaparecido. Brincadeira?
Aliás, sumiço e desaparecimento são coisas completamente diferentes, que fique claro isso. Desaparecimento é quando o cabra não aparece mesmo. Sumiço já é usado para ausências temporárias: "tomou chá de sumiço", "tá sumido, ein?".
E quantos sumiços já tivemos na história da nossa música! Cartola escafedeu-se por uma década do morro da Mangueira e já era dado como morto, quando o jornalista Sérgio Porto o reencontrou lavando carros numa garagem em Ipanema. Sérgio Sampaio sumiu do showbizz por anos, mas bastava alguém rodar o circuito boêmio do Baixo Leblon dos anos setenta e oitenta e lá estava o músico com seu jornal em alguma pequena mesa de botequim. O próprio TomZé sumiu da mídia e caiu no esquecimento no final da década de 70 e inicio dos 80 e quando se preparava para virar frentista de posto de gasolina, foi resgatado pelo gringo David Byrne e pôde voltar à ribalta.
O sumido Belchior não desapareceu da face da Terra - está lá, numa cabana no Uruguai. Esse jornalismo pseudo-investigativo que assola a mídia, sim, poderia desaparecer pra sempre, dos jornais, da TV, dos rádios, da internet. Mas por enquanto, infelizmente, essa alternativa é ficção-científica. Chocar vale mais do que checar.

Um comentário:

  1. Sensacional! Ótimo post!

    Só um adendo (que eu sei que está nas entrelinhas do texto): ao contrário dos demais citados no post, o Belchior sumiu por que quis. Não por ostracismo como os outros.

    Apesar da patacuada, ressalte-se ainda que: ou ele é muito adorado pelo público ou a turma toda entrou na onda. Na verdade, tem gente que fica correndo atrás do cara para faturar. Deram com os burros n´àgua: ele volta, quando quiser, para lançar o que quiser...

    Tem gente que citou Belchior por aí sem nunca ter comprado um LP ou CD do cara. Sem sequer conhecer uma música dele.

    Logo, uma jornalista extremamente antenada - de outra emissora, postou no twitter sobre o encontro Belchior - Tom Zé, e este último nem foi mencionado nas matérias.

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