19 de dezembro de 2018

Milton Nascimento ao vivo no Sesc Pinheiros (SP) - 16/12/2018

No domingo último assisti com minha esposa uma das melhores vozes do planeta em show muito particular no SESC Pinheiros (SP): Milton Nascimento - "Semente da Terra"! Embora eu seja fã de carteirinha do Clube da Esquina e já tenha visto ao vivo quase todos os artistas mais representativos do movimento - Lô Borges, Beto Guedes, 14-Bis, Tavinho Moura, Tavito, Wagner Tiso, Toninho Horta - só tive a oportunidade de ver o grande Milton Nascimento ( e certamente sem ele o Clube da Esquina não teria ultrapassado fronteiras internacionais) em apresentação coletiva no Ibirapuera ( com Rita Lee, Tom Jobim, Chico Buarque, etc) há mais de 20 anos atrás. Milton já ostenta 76 anos de idade, tem o andar bem cadenciado e lento, permanece sentado o tempo todo, e quando apruma o microfone e solta a garganta, eis que a sua voz continua potente, límpida, forte, cheia de fôlego. Fiquei impressionado com os finais estendidos, as variações do grave para o agudo, os falsetes "verdadeiros" ( tá cheio de falsete falso por aí). E o repertório... ah, o repertório: o artista escolheu as músicas a dedo dentro da longa carreira, com ênfase em batalhas culturais e sociais que ele sempre cultivou e preservou dentro de sua criação: a cultura negra, a cultura indígena, a família, a labuta da música, a força da mulher, as causas essenciais do povo brasileiro . Como diz no release, Milton procurou "unificar as várias lutas de sua biografia". Muito bem acompanhado por uma banda que já toca há três anos - Wilson Lopes ( violão), Beto Lopes ( violão), Kiko Continentino ( teclado), Lincoln Cheib ( bateria), Alexandre Ito (baixo) e Widor Santiago ( sopros) e participação especial nos vocais de José Ibarra ( que parece muito com o Francisco Aafa, que colaborou no projeto Cantoria da gravadora Quarup) - o compositor fez a ruidosa plateia ir abaixo com interpretações emocionantes e tocantes de sucessos como "Travessia", "Encontros e Despedidas", "Maria, Maria", "O Cio da Terra", "Nos Bailes da Vida", "Coração de Estudante ( a quem dedicou a Marielle Franco) e "Caçador de Mim". E também surpreendeu ao resgatar músicas que nem sempre fazem parte do seu repertório em turnês: Idolatrada ( do álbum Minas e Journey to Dawn), Me Deixa em Paz ( cujo dueto original foi com Alaíde Costa no LP Clube da Esquina), Milagre dos Peixes ( faixa título do álbum mais censurado de sua discografia), Sueño com Serpientes ( de Silvio Rodrigues - entrou no LP Sentinela, com participação de Mercedes Sosa), Lágrimas do Sul, A Lua Girou ( muito bem tramada com Ibarra) e Canção do Sal ( a primeira música de Milton gravada por Elis Regina, ainda em 1966). Teve também "Além de Tudo", música recente feita para seu filho adotivo, Augusto ( que depois vimos que trabalha junto na produção) com uma linda declaração de amor do pai, e as duas mais esperadas por mim: "Clube da Esquina 2" e "Nada Será como Antes", talvez as mais simbólicas da obra prima "Clube da Esquina" de 1972. Nessas eu não consegui segurar a emoção. Milton Nascimento também estava bem emotivo, expansivo, aberto, coisa que sua timidez crônica nem sempre deixou à mostra, e muito provavelmente pela vinda do filho na sua vida - ele andava depressivo e desgostoso com a música. Por isso foi um privilégio incomensurável ver Milton por inteiro, nesse domingo inesquecível, e constatar que sua voz é imutável. No Youtube, aparecem algumas músicas das noites dos dias 15 e 16/12 e também da semana anterior ( 08 e 09/12). Eis duas delas: https://www.youtube.com/watch?v=ptYlJyglpwg ////https://www.youtube.com/watch?v=uy81OQfp9hM//// abaixo e acima, o programa impresso do show, com release, repertório ( que não está completo) e ficha técnica.

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